Serei Nada

Desenho de Ana Guerreiro, 1991

Desenho de Ana Guerreiro, 1991

Antes, era nada

Na finitude de ser coisa, com nome

Incapaz de ver o nada 

donde fui tirado, revelo um segredo

onde estou mergulhado:

Serei Nada

O voo de Ícaro

Luís BarreiraO voo de Ícaro, 1991acrílico s/tela160x185 cmPinturaColecção privada: Graça Figueiredoarquivo: SLIDE_21599, 1991

Luís Barreira

O voo de Ícaro, 1991

acrílico s/tela

160x185 cm

Pintura

Colecção privada: Graça Figueiredo

arquivo: SLIDE_21599, 1991

Sensus extremus

Sensus extremus

 

 

Ensurdece, demasiado ruído

Apaga, demasiada proximidade

Cega, demasiada luz

Regela, demasiado frio

Enfraquece, demasiada liberdade

Incomoda, demasiado prazer

Desagrada, demasiada melodia

Paralisa, demasiada beleza

Ofusca, demasiada perfeição

Enlouquece, demasiado pensar

Corrói, demasiado sentir

Anestesia, demasiado amor

Abala, demasiada verdade

Gasta, demasiado tempo

Não sentimos os excessos


Texto de Luís Barreira, 1991

a n n a

Luís BarreiraA N N A - 1989Fotografia/ColagensSérie: entropiaarquivo: SLIDE_2119-F_126_9870, 1991

Luís Barreira

A N N A - 1989

Fotografia/Colagens

Série: entropia

arquivo: SLIDE_2119-F_126_9870, 1991

*Trabalhos expostos na primeira Bienal de Vila Franca de Xira, 1989

Rocha dos Namorados

Equinócio da Primavera

No século XVI, Cesare Ripa, no seu tratado de iconologia, descreve a “Fecundidade” (ver imagem) como uma “mulher coroada com folhas de zimbro que com as mãos aperta contra os seus seios um ninho de pintassilgos com os seus filhotes (pássaro que alguns confundem com o pardal). Segundo Plínio, lib. X, cap. LXIII, o pintassilgo é um dos mais pequenos mas dos mais profícuos animais, pondo de cada vez doze ovos.

A seus pés, uma galinha com os pintos recém-nascidos, saindo de cada ovo. Do outro lado, uma lebre rodeada pelas crias.

O zimbro é a planta que possui sementes capazes de alimentar os animais. Os pintassilgos representam as crias, os filhos; as galinhas, os ovos e os coelhos anunciam a fertilidade, que é a maior bênção que uma mulher pode ter no casamento”.

Toda esta imagem iconográfica (Mulher coroada com zimbro, acompanhada de Ovos, Pintassilgos, coelhos, galinhas) evidencia a aspiração ancestral do ser humano: o anseio de abastança, o desejo de fertilidade e de fecundidade.

Ancestralmente, certos povos pré-históricos efectuavam diversos rituais, por altura do equinócio da primavera, tendo como propósito nas suas preces o desejo de um ano novo, do renovar da esperança e sobretudo do desejo de abundância e fertilidade.

Alguns destes costumes pagãos, apesar de aculturados, chegaram até nós com os mesmos propósitos de então. No Alentejo existe um ritual, em S. Pedro do Corval, onde as mulheres atiravam, e ainda atiram, calhaus rolados (supostamente ovos) para o topo de uma formação rochosa, denominado “Rocha dos Namorados”, de configuração erecta (figura do órgão masculino), cravado na terra (símbolo da deusa mãe) procurando assim a fertilidade e a fecundidade desejadas. Segundo a tradição, ainda presente, as raparigas solteiras vão à “rocha dos namorados”, na segunda-feira de Páscoa, lançar uma pedra para cima do menhir procurando resposta sobrenatural em matéria do seu enlace: cada lançamento falhado representa mais um ano de espera do seu casamento.

Luís Barreira"Rocha dos namorados"  coordenadas: 38°26'43.6"N 7°28'32.7"W

Luís Barreira

"Rocha dos namorados"

coordenadas: 38°26'43.6"N 7°28'32.7"W

Numa leitura mais atenta aos monumentos megalíticos circundantes, encontramos o Alinhamento ou Cromeleque dos Almendres (estas construções, únicas na Europa ocidental, estendem-se desde Inglaterra até Portugal), um recinto alongado, com cerca de uma centena de menhires, na sua maioria de forma ovóide, que constituiu, por certo, além de uma construção de carácter multifuncional capaz de organizar e estruturar a sociedade envolvente, uma estrutura de carácter religioso envolvendo, supostamente, rituais propiciatórios de fecundidade. Um dos menhires, situado na extremidade norte, exibe três imagens solares radiadas. Tal iconografia corresponde, provavelmente, ao momento final do Neolítico, quando na região se fizeram sentir as primeiras influências culturais das primeiras comunidades da idade dos metais, portadoras de uma nova estrutura religiosa. Esta religiosidade centrada numa divindade feminina, idealizada com grandes olhos solares, assumira-se como a grande “deusa ibérica”. Certamente que estas manifestações na Europa ocidental, feitas através de cerimónias de carácter sexual, com libações e outras ofertas corporais, não são alheias a um dos mais importantes rituais em honra de Ishtar, deusa da fertilidade, deusa dos arcádios. Esta divindade, Ishtar, não é mais do que a representação da deusa Inanna, herança dos seus antecessores povos sumérios; cognata da deusa Asterote dos filisteus; da deusa Isis dos egípcios; e da deusa Astarte dos Gregos. Mais tarde esta deusa, Ishtar, foi assumida também na mitologia Nórdica como Easter (Páscoa em Inglês), a deusa da fertilidade e da primavera.

No equinócio da primavera, os participantes em honra da deusa da fertilidade Easter pintavam e decoravam ovos escondendo-os em tocas nos campos, na sequência de anteriores práticas já exercitadas pelos Persas, Romanos, Judeus e Arménios.

 

texto escrito em 1991 

Paisagem, 1991

Luís Barreirapaisagem, 1991acrílico s/tela40x60 cmcolecção privada: Paula Teixeira

Luís Barreira

paisagem, 1991

acrílico s/tela

40x60 cm

colecção privada: Paula Teixeira

pintura, 1991

Pintura

Luís Barreira, s/título, 1991Pragal300x250 cmacrílico s/gessoPINTURAcolecção particular

Luís Barreira, s/título, 1991

Pragal

300x250 cm

acrílico s/gesso

PINTURA

colecção particular

"de rerum natura"

Luís Carvalho Barreira

Publicação: ODE1O - ensaio gráfico

Fotografia: 1991

de rerum natura

 

As árvores da minha terra já não morrem de pé…

morrem nas manhãs frias de nevoeiro

morrem numa paleta policroma já perdida

morrem num tempo esculpido por uma soturna melancolia

morrem no ocaso da memória continuamente vivenciada

morrem na toponímia de um corpo consumido

morrem

morrem as minhas raízes silenciadas dentro de mim.