Luís Carvalho Barreira

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Essa negra Fulô

Luís Carvalho Barreira

Fotografia para um poema, 2017

performed by Rita (aluna do Curso de Teatro)

Essa negra Fulô, poema de Jorge de Lima (1895 - 1953) dito por João Villaret no Teatro S. Luís em Lisboa, em 1957.

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Essa Negra Fulô

 

Ora, se deu que chegou

(isso já faz muito tempo)

no bangüê dum meu avô

uma negra bonitinha,

chamada negra Fulô.

Essa negra Fulô!

Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!

(Era a fala da Sinhá)

— Vai forrar a minha cama,

pentear os meus cabelos,

vem ajudar a tirar

a minha roupa, Fulô!

Essa negra Fulô!

Essa negrinha Fulô

ficou logo pra mucama,

pra vigiar a Sinhá

pra engomar pro Sinhô!

Essa negra Fulô!

Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!

(Era a fala da Sinhá)

vem me ajudar, ó Fulô,

vem abanar o meu corpo

que eu estou suada, Fulô!

vem coçar minha coceira,

vem me catar cafuné,

vem balançar minha rede,

vem me contar uma história,

que eu estou com sono, Fulô!

Essa negra Fulô!

“Era um dia uma princesa

que vivia num castelo

que possuía um vestido

com os peixinhos do mar.

Entrou na perna dum pato

saiu na perna dum pinto

o Rei-Sinhô me mandou

que vos contasse mais cinco.”

Essa negra Fulô!

Essa negra Fulô!

Ó Fulô? Ó Fulô?

Vai botar para dormir

esses meninos, Fulô!

“Minha mãe me penteou

minha madrasta me enterrou

pelos figos da figueira

que o Sabiá beliscou.”

Essa negra Fulô!

Essa negra Fulô!

Ó Fulô? Ó Fulô?

(Era a fala da Sinhá

Chamando a negra Fulô.)

Cadê meu frasco de cheiro

Que teu Sinhô me mandou?

— Ah! Foi você que roubou!

Ah! Foi você que roubou!

O Sinhô foi ver a negra

levar couro do feitor.

A negra tirou a roupa.

O Sinhô disse: Fulô!

(A vista se escureceu

que nem a negra Fulô.)

Essa negra Fulô!

Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!

Cadê meu lenço de rendas,

Cadê meu cinto, meu broche,

Cadê o meu terço de ouro

que teu Sinhô me mandou?

Ah! foi você que roubou.

Ah! foi você que roubou.

Essa negra Fulô!

Essa negra Fulô!

O Sinhô foi açoitar

sozinho a negra Fulô.

A negra tirou a saia

e tirou o cabeção,

de dentro dêle pulou

nuinha a negra Fulô.

Essa negra Fulô!

Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!

Cadê, cadê teu Sinhô

que Nosso Senhor me mandou?

Ah! Foi você que roubou,

foi você, negra fulô?

Essa negra Fulô!